domingo, 18 de outubro de 2009

O Fim Dos Romanov

Em Março de 1917, a Revolução Russa derruba o poder autocrático do Czar Nicolau II, pondo fim à dinastia Romanov, a mais longa da história da Rússia.
A família Real era constituída pelo próprio czar, juntamente com a sua mulher, a czarina Alexandra Feodorovna, as suas quatro filhas, Olga, Tatiana, Maria, Anastásia e o seu filho e herdeiro de trono, Alexei. Quando foi destronado, Nicolau II e a sua família foram feitos prisioneiros pelos bolcheviques. Após várias transferências, para impedir que exércitos fiéis ao czar os libertassem, os membros da família real foram enviados para Ekaterimburgo, onde ficaram durante 78 dias em cativeiro na casa Ipatiev.
Embora tenha sido ponderado levar o Czar a julgamento e posteriormente executá-lo, utilizando a restante família para fins políticos, a ideia foi posta de lado, devido ao receio da chegada de tropa fiéis ao Czar.
Conhecidos por serem uma família unida, os últimos Romanov conseguiram conquistar a simpatia dos guardas por eles responsáveis. Assim, pouco tempo antes da execução da família, todos os guardas foram substituídos.
Na noite de 16 para 17 de Julho de 1918, a família Real Russa, juntamente com 3 criadas e o seu médico são acordados e levados para a cave da casa, sendo estas medidas justificadas pelos guardas como medidas de protecção.
Yakov Yurovsky, responsável pela execução dos Romanov, informa a família, já na cave, de que seriam executados.
Assim se iniciou um dos maiores mistérios do século XX. Durante oito anos o governo russo garantiu que o czar fora executado, mas que a restante família se encontrava em segurança. Depois Estaline proibiu qualquer referência aos Romanov. O mistério em torno dos Romanov e do seu destino continuou a adensar-se, alimentado pelo secretismo russo. Anastásia, por exemplo, tornou-se uma lenda devido à crença popular de que estaria viva.
Em 1991, nove corpos são encontrados numa floresta de Yeaktarinburgo. Após uma extensa investigação conclui-se que os restos mortais pertencem a Nicolau II, a Alexandra, a três das suas filhas e aos quatro empregados executados com eles. Aparentemente faltavam os corpos do pequeno Alexei e de uma das suas irmãs, Maria ou Anastásia. Este facto levou a ainda mais especulação sobre a possível sobrevivência de uma das princesas. Quanto ao pequeno herdeiro, este dificilmente poderia ter sobrevivido, dado sofrer de hemofilia.
Em 2007, dois conjuntos de restos mortais foram encontrados a 65 metros da sepultura inicial dos Romanov. Através de testes de ADN confirmou-se que eram os restos mortais de Alexei e de uma das suas irmãs, tendo sido impossível descobrir se de Maria ou Anastásia.
Cruzando os dados forenses com os dados históricos, obtidos através de relatórios feitos por
Yakov Yurosvky e depoimentos de testemunhas, foi possível perceber o que terá sucedido a 17 de Julho de 1918. Após informar os Romanov da sua execução, Yakov deu ordem aos seus soldados para que disparassem. Gerou-se então a confusão, até porque as balas disparadas fizeram ricochete nas paredes de pedra da cave. As raparigas tinham cosido jóias ao interior das suas roupa o que as fez sobreviver aos primeiros disparos. Depois de arrastarem os cadáveres para fora da cave os guardas perceberam que Maria e Anastásia ainda estavam vivas, tendo-lhes batido na cara até que morressem. A localização inicial dos corpos foi revelada pelos guardas, que se embebedaram e acabaram por contar o que sucedera pela vila.
Quando regressaram, para enterrar os corpos num novo local, Yakov deu ordens aos seus homens para que queimassem dois dos corpos, o de Alexei e o de uma das raparigas. Antes de queimados os cadáveres foram desmembrados e expostos a ácido sulfúrico. Uma fogueira no exterior durante uma ou duas horas não foi suficiente para fazer desaparecer totalmente os restos mortais, mais deixou os em muito mau estado, o que dificultou posteriormente a sua identificação. Dado o pouco sucesso na incineração dos dois primeiros corpos, Yakov mandou enterrar as restantes vítimas numa outra sepultura.
Estas descobertas puseram fim a quase um século de especulação. Não creio que a falta de informação seja a única culpada dos mitos que se criaram à volta deste crime, penso que houve também uma recusa inconsciente em acreditar que um crime tão horrendo fora cometido em nome de um regime político que tanta esperança trouxe ao povo russo.

Sobre este assunto
The Kitchen Boy, de Robert Alexander, é um romance histórico que retrata os últimos dias da família imperial russa e supõe, como muitos outros fizeram, um fim para a mesma.
Trata-se de um romance que mistura a ficção com factos reais, contendo múltiplos excertos a itálico que pertencem a documentos reais, que podem ser consultados em arquivos na Rússia.

Joana Lima

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