Para fazer uma "revolta", se é esse o nome que se pode dar à contestação hoje em dia, é preciso mais que uma pessoa; sim, adorava ser como aqueles ícones que sozinhos fazem a diferença, mas a verdade é que não sou, e não me vou "armar em herói, porque herói é coisa que não sou" (como confessou o senhor Labaredas, um ex-preso político, no seu discurso na passada sexta-feira na comemoração do 25 de Abril na minha escola). É a política do grão de areia no meio do deserto e assim se sentem todos actualmente. Podia ir para a rua contestar por melhores condições na escola, nos hospitais públicos e veracidade no sistema judicial, mas deparo-me com diversos obstáculos: não há autocarros onde vivo ao fim-de-semana nem nos feriados, no entanto se quiser apanhar o autocarro mais próximo tenho que andar um bom bocado até à paragem, depois teria de andar mais um pouco até ao metro se quisesse ir para o centro de Lisboa pois o autocarro não passa lá, e depois disto tudo só poderia lá ficar pouco tempo para fazer a mesma viagem para casa, isto porque o horário desse autocarro ainda é muito limitado aos feriados. Contudo mais um ou dois "obstáculos" surgem: a preguiça e o porquê da suposta contestação.
- A preguiça: fazer este percurso todo para depois chegar lá e não conseguir fazer nada pois apareceria sozinha no meio da multidão;
- O porquê da suposta contestação: há muitos porquês, mas sozinha seria apenas a maluquinha que fez mais um discurso sobre os problemas que o país/população enfrenta.
E ainda me queixo, quando afinal eu também faço parte da multidão que nos autocarros e nas paragens se revolta com a pessoa desconhecida sentada a seu lado e que grita com a televisão perante as injustiças, mas que se tivesse de actuar manter-se-ia inerte, com a desculpa de que tudo ficaria em águas de bacalhau. Ao escrever isto, descobri outro obstáculo, e este sim é bastante preocupante: a quantidade de vezes que vemos na televisão ou lemos nos jornais os escândalos, as guerras, o número de pessoas que morrem por dia no Mundo, mas que vemos ou lemos sem a mínima preocupação de tão afastados que nos encontramos dessa realidade, já adormecidos pelas imagens chocantes e os relatos temerosos dos media. O que se faz? Muda-se de canal, para algo mais agradável; fecha-se o jornal, dobra-se para dizer que foi lido e/ou deixa-se no banco do autocarro para alguém o atirar para o chão, ou com sorte, para o lixo.
"A informação está em todo o lado, as pessoas só não a conhecem porque não querem" citação dum colega da turma de Inglês.
É esta a minha revolta pessoal do 25 de Abril de 2010. Sem imagens ou vídeos chocantes.
Joana Duarte
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