domingo, 25 de abril de 2010

Que dia é hoje?

Esta é a pergunta que eu faço todos os dias quando acordo. Não que tenha amnésia ou algo do género, apenas não ligo muito à passagem do tempo. Claro que é muito importante saber em que dia a minha mãe faz anos se não quiser levar com o sermão "Nunca te lembras de nada, não admira que estejas assim, e ainda pedes coisas!" que muitas vezes não faz sentido, mas a Joana lá aguenta. Sem me querer desviar do assunto, o que eu queria dizer com este incoerente discurso é que hoje, HOJE, é 25 de Abril de 2010. Então, já se ligou uma lâmpada no vosso cérebro? Pois, hoje é o chamado "Dia da Liberdade"; sinceramente fico um pouco confusa com este nome, até porque singir este dia e mais nenhum à liberdade é dizer que no resto do ano vivemos num estado anti-democrático... o que talvez aconteça pois já se viram melhores dias no nosso país. Não que esteja a defender o Estado Novo, é que nem pensar, mas a verdade é que actualmente deparamo-nos com obstáculos mais complexos que no passado. Como jovem, apesar de recentemente me ter tornado uma "adulta" perante a lei (desculpem o termo mas, que treta, o (meu) Mundo não mudou por ter feito 18 anos), vejo a maior parte dos meus supostos direitos sufocados e depois atirados ao chão e, se ainda houver tempo, pisados e queimados por algum repressor. Sim, um drama que figurativamente resulta bastante bem para vos mostrar o que realmente se passa: nada! Precisamente, aborrecidamente, nada! Em todo o lado se ouvem pessoas a questionar a justiça, a saúde e a educação no nosso país; processos que vão a hasta pública e são posteriormente arquivados sem se saber porquê, hospitais públicos a fechar e clínicas privadas a abrir, alunos a bater em professores e professores que não sabem dar aulas queixarem-se da má remoneração (peço desculpa se alguém se sentir ofendido, mas se quiserem discuti-lo comigo terei todo o gosto em dar exemplos reais)... Enfim, mais conversa e menos revolta "prática". Não que ambicione uma guerra civil, mas sim uma greve ou algo parecido para ver se as pessoas acordam e vão para a rua actuar, participar na vida política do país. E provavelmente perguntam "Então como contribuis tu, sentada no sofá numa tarde de Domingo, precisamente no 25 de Abril, a escrever num blog que só interessa ao professor que te classifica e a mais ninguém porque não há quem aprecie ler tudo o que escreves?" ao que respondo:

Para fazer uma "revolta", se é esse o nome que se pode dar à contestação hoje em dia, é preciso mais que uma pessoa; sim, adorava ser como aqueles ícones que sozinhos fazem a diferença, mas a verdade é que não sou, e não me vou "armar em herói, porque herói é coisa que não sou" (como confessou o senhor Labaredas, um ex-preso político, no seu discurso na passada sexta-feira na comemoração do 25 de Abril na minha escola). É a política do grão de areia no meio do deserto e assim se sentem todos actualmente. Podia ir para a rua contestar por melhores condições na escola, nos hospitais públicos e veracidade no sistema judicial, mas deparo-me com diversos obstáculos: não há autocarros onde vivo ao fim-de-semana nem nos feriados, no entanto se quiser apanhar o autocarro mais próximo tenho que andar um bom bocado até à paragem, depois teria de andar mais um pouco até ao metro se quisesse ir para o centro de Lisboa pois o autocarro não passa lá, e depois disto tudo só poderia lá ficar pouco tempo para fazer a mesma viagem para casa, isto porque o horário desse autocarro ainda é muito limitado aos feriados. Contudo mais um ou dois "obstáculos" surgem: a preguiça e o porquê da suposta contestação.
  1. A preguiça: fazer este percurso todo para depois chegar lá e não conseguir fazer nada pois apareceria sozinha no meio da multidão;
  2. O porquê da suposta contestação: há muitos porquês, mas sozinha seria apenas a maluquinha que fez mais um discurso sobre os problemas que o país/população enfrenta.

E ainda me queixo, quando afinal eu também faço parte da multidão que nos autocarros e nas paragens se revolta com a pessoa desconhecida sentada a seu lado e que grita com a televisão perante as injustiças, mas que se tivesse de actuar manter-se-ia inerte, com a desculpa de que tudo ficaria em águas de bacalhau. Ao escrever isto, descobri outro obstáculo, e este sim é bastante preocupante: a quantidade de vezes que vemos na televisão ou lemos nos jornais os escândalos, as guerras, o número de pessoas que morrem por dia no Mundo, mas que vemos ou lemos sem a mínima preocupação de tão afastados que nos encontramos dessa realidade, já adormecidos pelas imagens chocantes e os relatos temerosos dos media. O que se faz? Muda-se de canal, para algo mais agradável; fecha-se o jornal, dobra-se para dizer que foi lido e/ou deixa-se no banco do autocarro para alguém o atirar para o chão, ou com sorte, para o lixo.

"A informação está em todo o lado, as pessoas só não a conhecem porque não querem" citação dum colega da turma de Inglês.

É esta a minha revolta pessoal do 25 de Abril de 2010. Sem imagens ou vídeos chocantes.

Joana Duarte

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