domingo, 31 de janeiro de 2010

O Rosto do Holocausto

Anne Frank

Em 1947 foi pela primeira vez publicado o diário que viria dar a conhecer ao mundo a história de Anne Frank. Actualmente, O Diário de Anne Frank foi já publicado na sua versão definitiva, sem omissões, e foi traduzido em sessenta e sete línguas.
Anne Frank nasceu em Frankfurt-am-Main, na Alemanha, numa família judaica, constituída pelo seu pai Otoo Heinrich Frank ,mãe,Edith Hollander, e irmã, Margot Frank.
Em 1933 a família Frank mudou-se para a Holanda, já que os nazis haviam subido ao poder na Alemanha e implantado leis anti-semitas.
Anne Frank recebeu o seu diário como prenda pelo seu décimo terceiro aniversário, a 12 de Junho de 1942, data em que pela primeira vez escreveu no mesmo.

“ 12 de Junho de 1942
Espero poder confiar-te tudo, como nunca pude confiar em ninguém, e espero que venhas a ser uma grande fonte de conforto e apoio.”

Pouco tempo depois decide que escreverá o seu diário como se este fosse uma amiga, a que chama “Kitty”.
A Holanda foi invadida pela Alemanha em 1940, altura em que Artur Seyss-Inquart é nomeado pelos nazis como Comissário do Reich para os territórios ocupados. Assim, também na Holanda foram impostas diversas leis que atentavam contra a liberdade e dignidade da comunidade judaica, leis essas que Anne Frank descreve no seu diário. Embora muitas vezes estas leis sejam referidas noutros documentos históricos, vê-las através de Anne dá-lhes contornos mais realistas, fazendo-nos compreender melhor o modo como eram aplicadas e sentidas por aqueles que por elas eram afectados. A medida final foi, como todos sabemos, enviar os judeus para “campos de trabalho”. A Julho de 1942, a família Frank escondeu-se no anexo secreto de um prédio, local em que ficaram até Agosto de 1944. Juntamente com eles escondia-se a família Van Pels e Fritz Pfeffer. As oito pessoas que se escondiam no anexo foram ajudadas por alguns amigos próximos, que lhe traziam alimentos e outros bens.
A narrativa de Anne Frank é sempre simples e muito pessoal. Dá-nos conta dos problemas de uma adolescente comum, como discussões com a família e a procura de um identidade própria, das suas esperanças e medos, do seu quotidiano, enquanto passa por um dos mais terríveis acontecimentos da história da Humanidade.Apesar da objectividade dos factos ser suficiente para quase nos fazer perceber a verdadeira dimensão da atrocidade que foi o Holocausto, o relato desta jovem dá um rosto humano aos milhões que morreram ou que viram as suas vidas destruídas. O à vontade de Anne para escrever sobre tudo, levou a que por muitos anos o seu pai não permitisse a publicação de algum conteúdo do seu diário, devido a comentários negativos sobre a sua mãe e outros dos habitantes do anexo.
Em 1944, a jovem Frank ouviu um discurso de uma governante holandês exilado, via rádio, no qual o mesmo dizia que após a guerra esperava recolher testemunhos das adversidades pelas quais o povo holandês passou durante a ocupação alemã. Este anúncio levou-a a decidir que após a guerra publicaria um livro baseado no seu diário. Infelizmente. Anne não sobreviveu á guerra.
A última entrada do diário data de 1 de Agosto de 1944. No dia quatro desse mês agentes da Gestapo entraram no anexo e prendem os seus oito habitantes. Duas das amigas que ajudavam a família, Miep Gies e Bep Voskujil ,e que trabalhavam no edifício onde se situava o anexo, encontraram o diário de Anne espalhado pelo chão e guardaram-no.
Na última entrada do seu diário, Anne escreveu sobre o seu lado que os outros não conheciam, desabafando sobre normalmente só mostrar o seu lado menos bom e sobre a dificuldade de ser quem gostaria, “(…) e continuo a tentar encontrar uma maneira de me tornar naquilo que gostaria de ser, e que poderia ser se…se não existisse mais ninguém no mundo.”
Os residentes do anexo foram enviados para um campo de trânsito para judeus no Norte da Holanda, Westerbok. Daí foram deportados para Auschwitz. Alguns aí permaneceram, outros foram levados para outros campos. Com a excepção de Otto Frank, pai de Anne, todos morreram. Anne e Margot foram levadas para Bergen-Belsen, onde faleceram, vitimas de uma epidemia de tifo. Cerca de um mês depois das suas mortes, o campo foi libertado por tropas britânicas.
Ao perceber que nunca o poderia entregar à sua autora, Miep Gies entregou o diário de Anne a Otto, que se dedicou a partilhar com o Mundo o legado deixado pela sua filha. Esta, que nunca teve a oportunidade de crescer e de se tornar em quem queria ser, transformou-se num símbolo do sofrimento judeu durante a 2º Guerra Mundial. Relembrou ao Mundo que os 6 milhões de judeus mortos no Holocausto eram pessoas vulgares, com sonhos, esperanças e receios. Sobre Anne, o escritor russo, Ilya Ehrenburg, escreveu: “Uma voz fala por seis milhões, a voz, não de um sábio ou poeta, mas de uma menina comum”.






Joana Lima

domingo, 24 de janeiro de 2010

Aldeias Portuguesas, Exposição do Mundo Português







A Exposição do Mundo Português

Enquanto vigorou, o Estado Novo controlou a produção cultural portuguesa de modo a limitá-la e usá-la a seu favor. Isto é, utilizou os artistas e as suas obras como meios de propaganda do regime, num projecto a que se chamou “política de espírito”. António Ferro, responsável pelo Secretariado da Propaganda Nacional, alertou Salazar para a importância da criação cultural na manipulação das massas e no modo como um país é visto pelo exterior. Assim, tentou-se conjugar o conservadorismo e a vanguarda.
Resultado deste esforço foi a Exposição do Mundo Português, em 1940, uma comemoração da Fundação de Portugal e da Restauração da Independência. Celebrou as tradições e cultura portuguesas, os feitos históricos da nação e as suas colónias. O único país convidado a participar foi o Brasil.
Apesar de um dos objectivos destas comemorações ter sido mostrar ao exterior a prosperidade portuguesa, foi pouca a atenção que este lhes pode prestar, já que a Exposição do Mundo Português se deu numa altura em que a 2ª Guerra Mundial atingia a Europa. Ainda assim, Portugal, “orgulhosamente só”, festejava os seus oito séculos de orgulhosa existência.
A exposição foi inaugurada a 23 de Junho pelo Marechal Carmona, acompanhado por Salazar e por Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas. O evento conseguiu unir múltiplos intelectuais portugueses no esforço de consagrar a ideologia do regime, baseada na Pátria, História e Império.
A zona ocidental de Lisboa foi a área usada, tendo a praça central da exposição, a Praça do Império, sido construída em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, local de onde haviam partido as caravelas para os Descobrimento, o momento de orgulho para Portugal. Em volta da mesma reuniam-se múltiplas construções, organizadas em secções, como o Pavilhão da Honra e de Lisboa, o Pavilhão dos Portugueses no Mundo, a Secção Histórica, o Pavilhão da Fundação, o Pavilhão do Brasil, o Pavilhão da Colonização, a Secção Colonial, o Parque de Atracções, a Secção de Etnografia Metropolitana, onde se encontravam as Aldeias Portuguesas, o Jardim dos Poetas. Exposta no Tejo, encontrava-se a Nau Portugal. Estas obras foram construídas com materiais frágeis e baratos, o que explica a sua limitada validade. Ainda assim ainda se encontram intactos o edifício do actual Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, que foi reconstruído a partir do seu original, feito de madeira.
A exposição exaltava a identidade portuguesa, os seus heróis e feitos, tentando incutir aos portugueses da época o sentido de responsabilidade pela perpetuação do seu legado.
Pelo nomes dos pavilhões referidos anteriormente é possível perceber as suas temáticas, porém aprofundarei o conteúdo prático de alguns deles. Para dar a conhecer ao povo do continente o império português, foram expostos no Jardim Botânico Tropical animais, plantas e pessoas vindos das colónias, na tentativa de reproduzir o ambiente das mesmas. Com o mesmo objectivo, mas desta vez focando-se no Portugal rural, a Secção de Etnografia Metropolitana incluía Aldeias Portuguesas, que não contavam apenas com casinhas típicas, mas também com pessoas trazidas da província. A entrada da Secção Histórica era decorada por enormes estátuas de guerreiros medievais, símbolos de autoridade e força, mas também da fé cristã. O Pavilhão da Honra e de Lisboa, a obra mais aclamada, era o símbolo máximo do ideal arquitectónico do Estado Novo. À que ter em conta que embora a maioria dos edifício da exposição seguissem um modelo arquitectónico moderno, o conteúdo da mesma não deixava de ser extremamente conservador.
Talvez a Exposição do Mundo Português tenha sido um sucesso em Portugal, a nível de visitas e de consagração do ideal arquitectónico totalitarista, porém, não cumpriu o objectivo primordial de mostrar ao mundo a prosperidade e tranquilidade vividas em Portugal , ou o de moldar e criar cidadãos “estado-novistas”.

Joana Lima

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Papel da Igreja Católica na Proliferação do Estado Novo

Um dos motivos do fracasso da 1ª República foi a oposição da Igreja. Esta situação foi conseguida por políticas anticlericais, como a separação do Estado e da Igreja, a proibição do culto público e a nacionalização dos bens da Igreja, num país em que a instrução geral da população era muito baixa e a influência da Igreja Católica muito forte. Assim, em 1925 criou-se o Centro Católico Português, organismo anti-republicano, que ainda assim fazia eleger deputados para o parlamento nacional.
Em 1928 a Ditadura Militar repôs o entendimento entre o Estado e a Igreja Católica. O Estado Novo exaltou e protegeu a Igreja católica, sendo esta religião um dos pilares do regime, algo claro no lema:” Deus, Pátria, Família”. Em 1940 o regime associa-se oficialmente à Igreja Católica com a Concordata entre a nação e a Santa Sé, onde eram atribuídos múltiplos privilégios à igreja, como a isenção fiscal e o direito de se organizar livremente.
Esta ligação à religião explica-se pelo conservadorismo do regime e do seu líder, António de Oliveira Salazar, que na sua juventude, fora activista do Centro Católico Português. Assim, o regime manteve sempre um cariz extremamente conservador e tradicionalista, onde o catolicismo se enquadrava perfeitamente. Este é o aspecto que melhor distingue o Estado Novo dos demais regimes fascistas seus contemporâneos.
Guiado e limitado pela moral cristã, o fascismo português enalteceu a ruralidade, um modo de vida austero, virtuoso e cheio de sacrifícios. Este estilo de vida insípido e pobre nunca permitiria o desenvolvimento intelectual da população, o desenvolvimento das mentalidades e do país, mantendo os portugueses e a sua pátria pobres e subdesenvolvidos.
O santuário de Fátima foi palco de celebrações com a bênção do Papa, nas quais Salazar era celebrado, como uma providência divina, o “Salvador da Pátria”.
A Igreja Católica ajudou o fascismo a subir ao poder e colheu os benefícios da sua jogada. Gozou de um período próspero e de liberdade, enquanto a maioria da população portuguesa vivia na miséria, impedida de pensar e agir por si.

Joana Lima

Estado Novo

O Estado Novo foi o regime totalitário fascista que vigorou em Portugal entre a aprovação da Constituição de 1933 e a Revolução a 25 de Abril de 1974. Era, essencialmente:

· Antidemocrático
· Conservador
· Nacionalista
· Corporativo



Joana Lima