domingo, 24 de janeiro de 2010

A Exposição do Mundo Português

Enquanto vigorou, o Estado Novo controlou a produção cultural portuguesa de modo a limitá-la e usá-la a seu favor. Isto é, utilizou os artistas e as suas obras como meios de propaganda do regime, num projecto a que se chamou “política de espírito”. António Ferro, responsável pelo Secretariado da Propaganda Nacional, alertou Salazar para a importância da criação cultural na manipulação das massas e no modo como um país é visto pelo exterior. Assim, tentou-se conjugar o conservadorismo e a vanguarda.
Resultado deste esforço foi a Exposição do Mundo Português, em 1940, uma comemoração da Fundação de Portugal e da Restauração da Independência. Celebrou as tradições e cultura portuguesas, os feitos históricos da nação e as suas colónias. O único país convidado a participar foi o Brasil.
Apesar de um dos objectivos destas comemorações ter sido mostrar ao exterior a prosperidade portuguesa, foi pouca a atenção que este lhes pode prestar, já que a Exposição do Mundo Português se deu numa altura em que a 2ª Guerra Mundial atingia a Europa. Ainda assim, Portugal, “orgulhosamente só”, festejava os seus oito séculos de orgulhosa existência.
A exposição foi inaugurada a 23 de Junho pelo Marechal Carmona, acompanhado por Salazar e por Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas. O evento conseguiu unir múltiplos intelectuais portugueses no esforço de consagrar a ideologia do regime, baseada na Pátria, História e Império.
A zona ocidental de Lisboa foi a área usada, tendo a praça central da exposição, a Praça do Império, sido construída em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, local de onde haviam partido as caravelas para os Descobrimento, o momento de orgulho para Portugal. Em volta da mesma reuniam-se múltiplas construções, organizadas em secções, como o Pavilhão da Honra e de Lisboa, o Pavilhão dos Portugueses no Mundo, a Secção Histórica, o Pavilhão da Fundação, o Pavilhão do Brasil, o Pavilhão da Colonização, a Secção Colonial, o Parque de Atracções, a Secção de Etnografia Metropolitana, onde se encontravam as Aldeias Portuguesas, o Jardim dos Poetas. Exposta no Tejo, encontrava-se a Nau Portugal. Estas obras foram construídas com materiais frágeis e baratos, o que explica a sua limitada validade. Ainda assim ainda se encontram intactos o edifício do actual Museu de Arte Popular e o Padrão dos Descobrimentos, que foi reconstruído a partir do seu original, feito de madeira.
A exposição exaltava a identidade portuguesa, os seus heróis e feitos, tentando incutir aos portugueses da época o sentido de responsabilidade pela perpetuação do seu legado.
Pelo nomes dos pavilhões referidos anteriormente é possível perceber as suas temáticas, porém aprofundarei o conteúdo prático de alguns deles. Para dar a conhecer ao povo do continente o império português, foram expostos no Jardim Botânico Tropical animais, plantas e pessoas vindos das colónias, na tentativa de reproduzir o ambiente das mesmas. Com o mesmo objectivo, mas desta vez focando-se no Portugal rural, a Secção de Etnografia Metropolitana incluía Aldeias Portuguesas, que não contavam apenas com casinhas típicas, mas também com pessoas trazidas da província. A entrada da Secção Histórica era decorada por enormes estátuas de guerreiros medievais, símbolos de autoridade e força, mas também da fé cristã. O Pavilhão da Honra e de Lisboa, a obra mais aclamada, era o símbolo máximo do ideal arquitectónico do Estado Novo. À que ter em conta que embora a maioria dos edifício da exposição seguissem um modelo arquitectónico moderno, o conteúdo da mesma não deixava de ser extremamente conservador.
Talvez a Exposição do Mundo Português tenha sido um sucesso em Portugal, a nível de visitas e de consagração do ideal arquitectónico totalitarista, porém, não cumpriu o objectivo primordial de mostrar ao mundo a prosperidade e tranquilidade vividas em Portugal , ou o de moldar e criar cidadãos “estado-novistas”.

Joana Lima

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