domingo, 21 de fevereiro de 2010

E há 100 anos?

Há 100 anos proliferava no país uma vontade imensa de destronar o rei e implantar a República. A sociedade de então era composta na sua maioria por gente pobre e pouco culta, enquanto que como minoria os grandes burgueses se evidenciavam, nada timidamente.













Foi portanto uma época de acentuados contrastes sociais.
No progresso tecnológico, o país avançou com o comboio que aproximou regiões e com o automóvel, transporte privado que passou a ser um bem obrigatório para as classes com um certo estatuto social; surgiram assim as primeiras corridas de automóveis. Sucedem os eléctricos aos antigos carros americanos que eram puxados por mulas. Para o povo, sempre havia o fiel burro.






























Continente e ilhas juntos tinham apenas 5,4 milhões de habitantes, com uma taxa de analfabetismo de 78,6%. As principais cidades eram Lisboa com 360 ooo habitantes, Porto com 172 000 e Braga com 24 3000 habitantes.
40 000 portugueses emigravam anualmente para a ex-colónia, o Brasil. Mantinham-se as colónias de Angola, Moçambique, Estado da Índia, Guiné, Timor, Cabo-Verde, Macau e São Tomé e Príncipe.

Emigrantes portugueses à espera do navio para o Brasil

A política do país definhava à medida que cada dia passava. Surgimento de novos partidos, golpes, conspirações, eleições. A década de 1910 foi tumultuosa... no mínimo.

Partidos de então:

Partido Regenerador (1815-1910) - Líderes: Fontes Pereira de Melo e Hintze Ribeiro;
Partido Regenerador-Liberal (1901-1910) - Líder: João Franco;
Partido Nacionalista (1902-1910) - Líder: Jacinto Candido;
Partido Progressista (1876-1910) - Líder: José Luciano de Castro;
Dissidência Progressista (1905-1910) - Líder: José Maria de Alpoim;
Partido Socialista (1875-1933) - Líderes: José Fontana e Azedo Gneco;
Partido Republicano Português (1876-1926)
- Líderes: Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, Afonso Costa, António José de Almeida, João Chagas, José Relvas, Brito Camacho, Bernardino Machado.

Não bastavam todos os problemas em volta da monarquia constitucional, ainda as votações eram manipuladas pelos "caciques" das localidades ("quem tudo manda numa determinada zona") que votavam em massa no seu partido e depositavam esses votos nas urnas; mais curioso, primeiro nomeava-se o Governo e só depois é que se ia a votos.
Apenas 12% da população votava, pois para o fazer era necessário ser do género masculino, com mais de 21 anos e que soubesse ler e escrever, ou então pagava-se "500 réis ou mais em contribuições directas do Estado".
Foram tempos de propaganda descarada, feita principalmente pelo Partido Republicano, com os seus jornais, panfletos, caricaturas e comícios, de forma a mover as massas.
A problemática mais focada era a dos "adiantamentos", dinheiro que era adiantado ilegalmente à Casa Real. Por norma , o Rei D.Carlos recebia uma conto de réis (moeda de então), mas com os "adiantamentos" passou a receber uma avultada quantia de 3232 contos.
Para resolver estes e tantos outros problemas e também para tentar inovar, D. Carlos convidou João Franco para chefiar o Governo. Surge então a "Ditadura Franquista", marcada pela repressão aos republicanos e à imprensa e pela dissolvência do Parlamento. A "Ditadura Franquista" só acabaria com o Regicídio, que ocorreu no Terreiro do Paço a 1 de Fevereiro de 1908.




Regicídio - 01.02.1908
Morrem D. Carlos e o seu sucessor, D. Luís, pelos executadores Manuel Buiça e Alfredo Costa.

Com a morte do Rei, passa o seu outro filho a chefiar, D. Manuel II. Durante o seu reinado, houve seis governos em 20 meses, uns duraram milagrosamente 24 dias! Os partidos estavam desorganizados e divididos em dissidências. Dentro do Partido Republicano afirmaram-se a Maçonaria e principalmente a Carbonária, entidade secreta que teve um papel muito importante para a revolução de 5 de Outubro. Esta associação, ao contrário da Maçonaria, cria na luta armada para alcançar a coesão política no país e recrutava a plebe e os seus membros em 1910 já eram 40 mil. Aquando do 5 de Outubro, a Carbonária desaparece (aparentemente). Militantes da Carbonária


É então que a 5 de Outubro de 1910 se implementa a República em Portugal, proclamada na varanda do edifício dos Paços do Conselho de Lisboa,

formando-se depois um Governo Provisório chefiado por Teófilo Braga, o 1º Presidente da República Portuguesa.
Durante este periodo controverso a literatura de romance estava em voga; autores como Guerra Junqueiro, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiróz, Almeida Garrett, Herculano, Eduardo Metzner, Gomes Leal, entre outros, fazem parte da vida social das elites. Fernando Pessoa ainda não se destacava em 1910, ano em que fez 22 anos. Proliferava a escrita dos "Vencidos da Vida".

Os "Vencidos da Vida" - Eça de Queiroz sentado no centro, Ramalho Ortigão o quarto da esquerda, Guerra Junqueiro primeiro da esquerda e Oliveira Martins de barba

Como grande parte da população era analfabeta e os livros considerados "um luxo", o Partido Republicano promovia a literatura (também em tom propagandístico) de folhetim, com os romances que eram vendidos em vários capítulos, mas também com a literatura oral tradicional feita em grupo.

Quanto à literatura internacional, destaque para a escrita de aventura, como Sherlock Holmes, Texas Jack e Capitão Morgan. Os westerns vigoravam, assim como os piratas. Era uma literatura não muito cuidada mas que empolgava os leitores, para além de que tinha o preço a seu favor: 60 réis (moeda de então) a partir de 1907. Actualmente são uma raridade pois eram vendidos em papel de jornal, sendo portanto muito frágeis e que após leitura eram deitados ao lixo (como o actual "Metro" por exemplo).














A par destas inovações surge Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro, jornalista, cartoonista e ceramista que retratou o "ridículo" do país. Fez parte, juntamente com o seu irmão pintor Columbano Bordalo Pinheiro, do grupo de artistas apoiantes da renovação da arte portuguesa "Grupo do Leão". Fundou o primeiro jornal de crítica diário, "A Lanterna Mágica", em 1875. Foi o criador do "Zé Povinho", retrato satírico do povo português que nasce no 5º número de "A Lanterna Mágica". Esta figura é asfixiada em 1907 durante o periodo da "Ditadura Franquista" e a repressão da imprensa.



Morre no Chiado a 23 de Janeiro de 1905, meses antes da revolução republicana.
Para além das suas caricaturas, deixou ainda a sua galeria de loiça artística da Fábrica das Faianças, nas Caldas da Rainha.

Nos anos que se seguiram Portugal passou por duas Guerras Mundiais, ainda que não de maneira muito participativa, mas mais "violentamente" por uma Ditadura Salazarista, muito mais repressiva que a de João Franco e ainda pela Guerra Colonial. Tanto o panorama político como económico se mantiveram o "calcanhar de Aquiles" de um país que anseava por "liberdade, igualdade e fraternidade" em terras de conservadorismo.

Depois deste senhor (Gomes da Costa)...

quem se seguiu foi este senhor, Oliveira de Salazar


Joana Duarte

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