domingo, 23 de maio de 2010

África

África tem sido e é palco de todos os maiores males da Humanidade: fome, guerra, genocídio, epidemias, miséria extrema, corrupção, governos autoritários e desastres ambientais. E estes fenómenos não ocorrem de modo temporalmente afastado, passa-se tudo ao mesmo tempo e em grande escala, por quase todo o continente, afectando a maioria da sua população.
Porquê África? Creio que é fácil deduzir que a causa destes problemas advém de uma instabilidade política e de uma incapacidade de estabelecer regimes democráticos justos que conduz á total desorganização destes países. Pois, sem um governo capaz, estes países não conseguirão manter a paz, desenvolver-se tecnologicamente e, consequentemente, acabar com a fome crónica que os afecta.
O modo como os regimes ditatoriais têm sido impostos é como que uma pequena réplica da Europa pré Segunda Guerra Mundial, populações desesperadas que acabam por seguir um líder carismático que prometa trazer ordem ao país.
A facilidade e rapidez com que governos democráticos e regimes autoritários são derrubados do poder poder-se-á justificar, de modo breve e simplista, pelo descontentamento das populações e pela falta de um sentimento nacional. Afinal, os territórios africanos congregam em si múltiplas etnias, confinadas e misturadas entre si nos mesmos países, situações de tensão que facilmente resultam em violentos conflitos, precisando apenas, na maiorias das vezes, que líderes sanguinários com interesses políticos pessoais aticem as inimizades étnicas.
O continente africano encontra-se preso a um ciclo de violência e pobreza que dificilmente pode ser quebrado. Os países desenvolvidos parecem não conseguir ajudar África e a opinião pública ocidental parece começar a questionar-se se já não estaria na hora de os povos africanos se conseguirem governar e acabar com os seus problemas.
África caiu numa espiral de horror e a culpa disto é quase totalmente do ocidente. Começámos a criar um futuro difícil a este continente no momento em que iniciámos os Descobrimentos, espalhando um pouco de cultura ocidental e considerando as outras culturas inferiores, interferimos no desenvolvimento dos povos africanos e usámo-los como escravos, mais tarde, no século XIX, dividimos África e régua e esquadro e no século XX vigorou o neocolonialismo. Este continente, rico em matérias-primas, foi preso e usado pelos interesses do Ocidente, que dele tirou aquilo de que necessitava, não lhe dando a oportunidade, nem o tempo de se desenvolver. As nações passam por várias fases, definem os seus territórios, experimentam vários regimes políticos, várias ideologias, entram em confronto mutuamente, criam laços e relações entre si, enfim, definem quem são e o seu lugar no Mundo. A maioria dos países do Mundo passou séculos nesta experiência, ainda a fazem, mas em menor escala. África começou-a por volta de meados do século XX, já cansada e usada, num Mundo em que as posições de cada um se encontram já definidas e em que é olhada como uma “subalterna”. Estas são as condições dadas a África para se desenvolver e tentar acompanhar os restantes continentes.
Mas simpaticamente, o Ocidente compra matérias-primas a África, a preços irrisórios, claro está. Mais grave ainda, é que uma boa parte destes produtos são comprados a líderes de guerrilheiros, assim, o ocidente financia as guerras africanas e a violência que estas tropas rebeldes exercem sobre as populações, usadas quase como escravas.
Aparentemente, deixámos condições difíceis como ponto de partida para África, mas estamos dispostos a colocar mais obstáculos ao seu desenvolvimento. Aparentemente, somos incapazes de assumir a responsabilidade histórica do que fizemos e de assumir o preço real do nosso estilo de vida.

Joana Lima

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