sexta-feira, 7 de maio de 2010

Xanana Gusmão

José Alexandre Kay Rala "Xanana" Gusmão nasceu em Manatuto, Timor, a 20 de Junho de 1946. Os seus pais eram professores do ensino primário. Frequentou um colégio jesuíta até abandonar os estudos aos 16 anos por razões económicas. Mais tarde conseguiu um trabalho na admnistração pública, o que permitiu que continuasse a estudar. Em 1968 alcançou o posto de cabo, recrutado no exército português e casou-se com Emília Lopes de quem teve dois filhos.

Em 1974, ano em que ocorreu a Revolução dos Cravos em Portugal e o Governo Português intencionou dar autodeterminação à ilha, Xanana aderiu a uma organização nacionalista chefiada por José Ramos-Horta (actual Presidente de Timor-Leste), trabalhando ao mesmo tempo no jornal "A Voz de Timor".
Gusmão junta-se ao partido FRETILIN - Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente - e é preso pelo partido da oposição, a UDT (União Democrática Timorense). A vizinha Indonésia aproveitou essas desestabilizações políticas para invadir a ilha várias vezes. No final do ano Timor-Leste foi entregue à FRETILIN, Xanana libertado e declara-se a independência a 28 de Novembro de 1975 de Timor Português. Pouco tempo depois a Indonésia invade Timor-Leste na totalidade, havendo resistência por parte de grupos revolucionários compostos por civis que Gusmão recrutava de aldeia em aldeia e que comandou.
Até ao início dos anos 90 manteve-se a oposição liderada por Xanana Gusmão que, a fim de alertar a comunidade internacional para o que se passava no seu país (como o Massacre no Cemitério de Santa Cruz a 12 de Novembro de 1991), utilizou todos os meios de comunicação que podia.

(foi o único vídeo que encontrei com a imagem mais nítida).

Desencadeou-se uma caça ao homem promovida pelo Governo Indonésio e em Novembro de 1992 Xanana foi preso, onde foi torturado e condenado a prisão perpétua (a sentença foi diminuida mais tarde pelo Presidente Suharto para 20 anos) e o direito de se defender perante a lei foi-lhe negado. Durante os sete anos em que esteve preso em Cinipang, Jacarta, foi visitado por várias figuras políticas (como Nelson Mandela) e deu algumas entrevistas, uma delas para a SIC Portugal:



Mesmo estando preso, Xanana demonstra ser também pintor e escritor, e em 1994 publica o livro "Timor-Leste, um Povo, uma Pátria". A 10 de Novembro de 1999 sai da prisão e é transferido para a casa-prisão de Salemba, Jacarta Central (uma espécie de prisão domiciliária, onde apesar de ter mais privacidade não podia fazer chamadas, só receber, e as visitas eram condicionadas) recebendo a visita de Ana Gomes, chefe da Secção de Interesses de Portugal na Indonésia.
A 30 de Agosto de 1999 faz-se um referendo em que a maioria da população opta pela independência de Timor-Leste, o que o Governo Indonésio não admitiu, iniciando-se uma campanha de terror feita à população (violações, espancamentos, mortes). O Mundo via em directo o massacre por que o povo timorense passava e é então que, pressionados pela ONU, tropas maioritariamente australianas entram na ilha e libertam Xanana a 7 de Novembro de 1999.

Gusmão desde então participa em muitas campanhas a favor da paz e, a convite, fez parte da admnistração da ONU até 2002. Em Abril de 2002, no periodo de eleições presidenciais, tornou-se o primeiro Presidente de Timor-Leste. Em 2007 anuncia que não se vai recandidatar à presidência, decidido a formar um novo partido, o CNRT (Conselho Nacional de Resistência Timorense). A 8 de Agosto desse ano é eleito Primeiro-Ministro, cargo que mantem até à actualidade.
Xanana entretando divorciou-se, mas voltou-se a casar com a australiana Kirsty Sword de quem teve três filhos.

Prémios:
  • Sakharov (1999) - Liberdade de Pensamento
  • Paz de Sidney (2000) - a sua "Coragem e Liderança para a Independência do povo de Timor-Leste"
  • Doutor "Honoris Causa" (2000) - pela Univeridade do Porto

Enquanto pesquisava sobre este (acho que se pode aplicar) revolucionário não pude deixar de encontrar semelhanças com outros ícones políticos que lutaram pela liberdade e justiça de um povo, como Nelson Mandela ou Che Guevara.

"Mar Meu

Pudesse eu
prender entre os dedos
os suspiros do mar
e distribui-los
ás crianças

Pudesse eu
acariciar com os dedos
A suave brisa das ondas
e sentir cabelos
de crianças

Pudesse eu
sentir nos dedos
o beijo das espumas
e ouvir os risos
das crianças

Pudesse eu
tocar com os dedos
o sono do mar
e embalar os olhos
de crianças

Pudesse eu
ter entre os dedos
belas conchinhas
e fazer colares
p’ra as crianças

Oh, mar meu!
porque esperas?
porque não dás?
porque não sentes?
porque não ouves?

Imerso nos meus pensamentos
fui subitamente estremecido
Do mar, do meu mar,
vinham tremores
saídos de barcos

Olhei para o céu
que explodia
os suspiros do mar
eram choros de agonia
a suave brisa

o cheiro do pó e do sangue
o beijo das espumas
o estertor da morte
o sono do mar
as pedras da sepultura

e as belas conchinhas
desenhavam
o destino da Pátria!"
de Xanana Gusmão

Joana Duarte

Sem comentários:

Enviar um comentário